Levedura da floresta

Agência FAPESP – Uma nova espécie de levedura foi descoberta na Floresta Amazônica por um grupo de pesquisadores equatorianos e britânicos. A descrição foi publicada no periódico FEMS Yeast Research.

A nova espécie foi denominada Candida carvajalis sp. nov.. Leveduras são muito importantes na produção de alimentos e bebidas. Cada nova espécie descoberta amplia o conhecimento a respeito de sua variabilidade genética e mesmo pequenas diferenças entre cada uma têm elevado potencial econômico.

“Trata-se de uma corrida contra o tempo, por conta da enorme perda da biodiversidade em curso no planeta. Esse estudo destaca a importância de coletar, caracterizar e preservar o que sobrou”, destacou Steve James, do Institute of Food Research, com sede na Inglaterra, um dos autores da pesquisa em colaboração com colegas da Universidade Católica do Equador.

“As quatro diferentes regiões climáticas do Equador e os tipos de fermentação conhecidos por populações indígenas antigas fazem desse país um local promissor para a descoberta de novas espécies de levedura”, disse Javier Carvajal, líder do grupo de pesquisa equatoriano.

A levedura foi descoberta pelo pai do cientista, Enrique, que não é cientista mas estava na floresta em uma missão de prospecção de petróleo. O nome dado à nova espécie é uma homenagem a ele. Por produzir cerveja artesanalmente, Enrique entende bem a importância da levedura.

Enrique, advogado de formação, coletou amostras da nova espécie encontradas em madeira apodrecida e em folhas, próximo à cidade de Dayuma, na província de Orellana, na região central da Amazônia equatoriana.

“Nossa colaboração com o grupo no Equador é inestimável. Juntos, queremos ajudar a garantir que a biodiversidade seja preservada e possa ajudar no apoio à inovação na produção de alimentos, bebidas e na área de saúde”, afirmou Ian Roberts, da National Collection of Yeast Cultures, principal coleção de culturas de levedura no Reino Unido, com mais de 3,4 mil linhagens acumuladas em meio século.

“Coleções como a nossa serão cada vez mais importantes para engenheiros químicos em todo o mundo que buscam novas propriedades da levedura de modo a melhorar processos nos mais variados usos, como na produção de biocombustíveis de segunda geração”, disse Roberts.

O artigo Candida carvajalis sp. nov., a novel anamorphic, ascomycetous yeast species from the Ecuadorian Amazon jungle, de Javier Carvajal e outros, pode ser lido por assinantes da FEMS Yeast Research em www.blackwellpublishing.com/femsyr.

Pesquisa: FPN-SP-BR

Fonte:http://www.agencia.fapesp.br/materia/10541/divulgacao-cientifica/levedura-da-floresta.htm

Ruralistas X Ambientalistas

Ruralistas ‘ocupam’ Comissão do Meio Ambiente na Câmara; Sarney Filho vê ‘distorção’

Piero Locatelli
Do UOL Notícias
Em Brasília

A bancada ruralista ficou com 16 dos 36 lugares da Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. Por ela devem passar todos os projetos ligados à questão ambiental na Casa.

Segundo o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), líder da Frente Parlamentar da Agropecuária, ocupar espaço nesta comissão foi uma atitude deliberada.

Para coordenador da Comissão Pastoral da Terra, ruralistas serão um entrave
à aprovação de leis de proteção ao meio ambiente

O deputado Sarney Filho (PV-MA), líder da bancada ambientalista, não vê a ocupação com bons olhos

Segundo o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), líder da Frente Parlamentar da Agropecuária, ocupar espaço nesta comissão foi uma atitude deliberada

“Estávamos orientando o pessoal para nos dividirmos bem nas comissões de nosso interesse”, conta ele. Segundo Colatto, houve recomendação para os ruralistas se estabelecerem nas Comissões de Agricultura, na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e na de Relações Exteriores, além da do Meio Ambiente.

Para o coordenador da Comissão Pastoral da Terra Dirceu Umagalli, os ruralistas serão um entrave à aprovação de leis de proteção ao meio ambiente. “Eles estão se lixando para a questão ambiental”, afirma. “Para os ruralistas a questão ambiental é um empecilho. Para avançar na Amazônia ou Cerrado eles têm de reelaborar a lei. Não que isso seja um problema, afinal eles nunca cumpriram a lei.”

Colatto diz que a ocupação e o interesse dos ruralistas na comissão é legítimo. “Somos diretamente atingidos pela questão ambiental. Atualmente, o produtor não sabe o que fazer em relação ao meio ambiente. Ele fica numa situação de vulnerabilidade em que há multas exorbitantes e pode até perder a propriedade”, diz o líder.

O deputado Sarney Filho (PV-MA), líder da bancada ambientalista, também não vê a ocupação com bons olhos. “Isso é uma distorção grande do que é a comissão de meio ambiente”, diz ele. Segundo Sarney Filho, há cerca de três anos os ruralistas vêm tomando mais lugares na comissão.

Para o deputado, a culpa da distorção é dos partidos. São eles os responsáveis pela indicação dos membros no começo de cada legislatura. “Eu acho deplorável que partidos grandes, como o PSDB e uma parte do DEM, não sejam sensíveis à causa ambiental”, diz ele.

Sarney Filho foi ministro do Meio Ambiente no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ele, no entanto, separa os tucanos de Brasília dos de São Paulo, caso de FHC.

O novo presidente da comissão é o deputado tucano Roberto Rocha (MA). Ele diz que não vai haver afrouxamento nas leis ambientais e que os ruralistas não devem ser um problema na comissão. Mas Rocha admite a dificuldade para conciliar os interesses dos ruralistas com o dos ambientalistas.

“Nosso maior desafio é político. Os interesses são conflitantes? São. Mas temos de concretizar com o diálogo e achar um modelo econômico que possa privilegiar o social e o ambiental”, diz o deputado.

A fronteira entre ruralistas e ambientalistas, no entanto, não é tão rígida. O presidente anterior da comissão, André de Paula, faz parte das duas bancadas.

“O presidente precisa ter capacidade política de ouvir as duas partes da moeda. Se não fizer isso, está morto”, diz André. “Questões que contrapõem o desenvolvimento com a preocupação na área ambiental nunca deixarão de existir.”

Código Florestal
A revisão do Código Florestal, criado em 1965, deve pautar as reuniões deste ano e é citada como prioridade pelo novo presidente da Comissão. Em 2008, o tema foi constante na pauta. André de Paula afirma que queria votá-lo até o fim de 2008, mas não foi possível devido às pressões que sofria de diversos setores.

Os ruralistas querem criar um código mais amplo do que o Florestal. O líder Colatto diz que os problemas ligados à poluição não se restringem ao campo e que, por isso, é necessário criar um código mais abrangente. Ele propõe um Código Ambiental que daria conta do perímetro urbano, além do rural, que consta no Código Florestal.

Os ambientalistas discordam da necessidade de rever o Código Florestal. “Revisar o código é prioritário para os ruralistas, mas para a gente, não é nenhuma prioridade”, diz Sarney Filho. “No fundo, no fundo, ou nós queremos o desenvolvimento sustentável ou queremos a Amazônia como uma fronteira agrícola a ser explorada. É isso que está em discussão.”

Pesquisa

FPN-SP-Br

A floresta no limite

A paisagem que Paulo Brando encontrou em outubro passado na Floresta Nacional do Tapajós em Belterra, município no oeste do Pará, é bem distinta da que o encantou em sua primeira viagem à região seis anos atrás. As árvores mais altas e imponentes tinham muito menos folhas que o normal e já não se abraçavam no topo da floresta como antes. Várias estavam secas e mortas e por entre os vãos da copa deixavam espiar o céu. Quase sempre inacessíveis a quem caminha pela mata, os raios de sol chegavam à camada de folhas no solo, deixando-a mais seca e propensa a pegar fogo. Felizmente a transformação observada pelo engenheiro florestal paulista se restringe – ao menos por enquanto – a uma pequena área da Amazônia que na última década vem servindo de laboratório natural para pesquisadores brasileiros e norte-americanos interessados em descobrir o que pode acontecer com a mais vasta floresta tropical do mundo caso, como previsto, a temperatura do planeta continue aumentando e as chuvas diminuam na região.

No interior dessa reserva ambiental às margens do rio Tapajós, a 67 quilômetros ao sul de Santarém, Daniel Nepstad,  ecólogo do Centro de Pesquisas Woods Hole, nos Estados Unidos, e fundador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), criou no final dos anos 1990 um elaborado experimento a céu aberto. Selecionou um hectare de vegetação nativa – o correspondente a um quarteirão com 100 metros de lado – no qual simulou secas intensas semelhantes às causadas de tempos em tempos no leste da Amazônia pelo El Niño, o aquecimento anormal das águas superficiais do oceano Pacífico.

Durante cinco estações chuvosas seguidas, cerca de 30 pesquisadores e auxiliares da equipe de Nepstad instalaram um pouco acima do solo 5.660 painéis plásticos de 3 metros de comprimento por 0,5 metro de largura, recolhidos ao final de cada período de chuvas. Como uma espécie de guarda-chuva sobre a floresta, os painéis desviavam as águas vindas do céu para um sistema de calhas que as conduziam para longe dali. Os efeitos desse experimento complexo e dispendioso – foram medidos gases emitidos para a atmosfera, umidade do solo, crescimento das plantas, entre outros fatores – começaram a se tornar mais claros recentemente com a publicação de artigos científicos detalhando os danos causados por cinco anos de uma seca experimental severa que reduziu de 35% a 40% o volume de água que chegava ao solo (o índice médio de chuvas na região de Santarém é de 2 mil milímetros por ano, concentrados de dezembro a junho).

Tornar impermeável à chuva o chão da floresta pode até parecer uma ideia extravagante. Mas não faltavam razões para seguir com o projeto. Modelos climáticos desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) estimam que algumas regiões da Amazônia podem ficar até oito graus mais quentes nas próximas décadas se o consumo de combustíveis derivados de petróleo e a derrubada e a queima de florestas no mundo seguirem no ritmo atual, elevando a concentração atmosférica de gás carbônico, o principal agente associado ao aquecimento e à transformação do clima do globo. Uma provável consequência desse aumento da temperatura é a alteração no regime de chuvas no planeta.

“Ainda não há um consenso sobre o que pode ocorrer com as chuvas na Amazônia”, explica Carlos Nobre, climatologista do Inpe e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas que analisa as evidências de alterações no clima da Terra. “Dos 23 modelos climáticos que fundamentaram o relatório de 2007 do IPCC, a maioria mostra uma tendência de redução entre 10% e 30% das chuvas na Amazônia, mas o restante indica a possibilidade de que permaneçam nos níveis atuais ou até aumentem”, diz Nobre, coordenador do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.

Além da mata – Apesar da incerteza, a diminuição de chuvas sobre a floresta, resultado de fenômenos El Niño mais frequentes e intensos ou do aquecimento do Atlântico Norte decorrente do aquecimento do planeta, preocupa. Com menos chuva, é grande o risco de que a mata densa e exuberante que se espalha por quase 7 milhões de quilômetros quadrados na América do Sul se transforme, em especial a sul e a leste, em uma vegetação mais baixa, rala e seca, cuja aparência lembra a de savanas. E os prejuízos dessa transformação na estrutura e na fisionomia da floresta – ela passaria de úmida a seca – não devem se limitar à Amazônia. É que a água que a vegetação amazônica extrai do solo e lança à atmosfera controla o clima e as chuvas de boa parte do Brasil e da América do Sul (Pesquisa FAPESP nº 114).

“Pequenas alterações na floresta podem afetar o balanço hídrico e térmico de outras regiões”, afirma o agrônomo Eneas Salati. Ex-professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Salati estuda há cerca de 40 anos a reciclagem natural de água e a formação de chuvas na Amazônia. Em um experimento conduzido duas décadas atrás na bacia hidrográfica de um afluente do rio Negro, no estado do Amazonas, cerca de 800 quilômetros a oeste de Santarém, ele descobriu que as plantas da floresta devolviam à atmosfera, na forma de vapor eliminado pela transpiração, metade da água das chuvas – efeito comprovado por estudos posteriores. Embora existam variações internas entre uma região e outra da Amazônia, esses valores não devem variar muito. Por essa razão, calcula-se que pouco menos da metade da água que cai sobre a floresta na forma de chuva retorne como vapor para a atmosfera. “Parte desse vapor sobe até a alta troposfera e vai até a Antártida, onde produz depósitos de gelo”, conta Salati, atualmente diretor técnico da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável. Nessa longa viagem, o vapor eliminado pelas árvores da Amazônia contribui para intensas chuvas no Sudeste e Sul do país, responsáveis por parte importante da produção agropecuária nacional.

Seca artificial – Ante o risco de um futuro mais seco, Nepstad decidiu verificar experimentalmente o quanto a floresta resiste à redução das chuvas e como ela se transforma se essa situação durar muito tempo. Em parceria com o biólogo Eric Davidson, do Woods Hole, e o ecólogo Paulo Moutinho, do Ipam, Nepstad bolou o experimento Seca floresta em Tapajós, onde a estrutura e a fisionomia da vegetação são semelhantes às de quase um terço da Floresta Amazônica. O projeto, que envolveu pesquisadores de 14 instituições, integrou o Experimento em Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) e foi financiado pelos governos brasileiro e norte-americano. Além dos painéis plásticos transparentes instalados acima do solo – os painéis eram virados algumas vezes na semana para que as folhas mortas e galhos chegassem ao chão –, os pesquisadores ergueram quatro torres de 30 metros de altura interligadas por passarelas de madeira, de onde era possível observar melhor a copa das árvores, e cavaram cinco poços com 11 metros de profundidade para medir alterações na reserva de água do subsolo. Em outro hectare da mesma floresta construíram aparatos semelhantes, mas mantiveram a área descoberta para permitir comparações – é a chamada área controle. “Não tínhamos intenção de predizer qual será o futuro da floresta, pois para isso teríamos de repetir o experimento em diferentes regiões, uma vez que a vegetação da Amazônia não é homogênea”, afirma Davidson, diretor de projetos de um segmento do LBA. “Queríamos apenas descobrir os possíveis efeitos da seca sobre a estrutura da mata.”

Já de início surgiram surpresas. A floresta no Tapajós resistiu bem aos dois primeiros anos de seca artificial – algo, de certo modo, esperado numa região frequentemente atingida pela escassez de chuva causada pelo El Niño. A mortalidade das árvores na área coberta pelos painéis permaneceu semelhante à da que continuava a receber chuva. A copa das árvores, porém, encolheu quase 20%. Aparentemente não porque morressem mais folhas, mas porque as novas simplesmente deixavam de nascer, relatou Nepstad em 2002 no Journal of Geophysical Research. A abertura no dossel da floresta permitiu entrada de mais luz, secando a camada de folhas e galhos caídos sobre o solo (serapilheira) e aumentando o risco de incêndio. Nepstad calculou que a área privada de chuva se tornou vulnerável ao fogo por até dez semanas, diante de dez dias nos locais mais úmidos.

Não foi tudo. “Já no primeiro ano as árvores praticamente pararam de crescer”, conta Paulo Brando, do Ipam, um dos integrantes da equipe. Houve uma queda de 20% no ritmo de crescimento das árvores de porte médio, com tronco de ao menos 10 centímetros de diâmetro e até 15 metros de altura, enquanto outras, como o louro-amarelo (Licaria brasiliensis) e o tachi-vermelho (Sclerobium chrysopillum), reduziram a taxa de fotossíntese, processo em que convertem a energia solar em açúcar, retirando gás carbônico da atmosfera. Trabalhando em um experimento semelhante montado em 2002 na Floresta Nacional de Caxiuanã, cerca de 1.300 quilômetros a leste de Santarém, Rosie Fisher e Patrik Meir, da Universidade de Edimburgo, Escócia, constataram que a provável razão da queda nas taxas de transpiração e fotossíntese da floresta é a maior dificuldade de as raízes absorverem água do solo.

Brando analisou, em especial, o caso da espécie mais comum na região: a caferana (Coussarea racemosa), árvore de 20 metros, casca fina e caule acinzentado que vive à sombra das mais altas, no sub-bosque da floresta. Com a restrição de chuvas, a caferana passou a produzir folhas, flores e frutos mais tarde que o normal, talvez como estratégia de economizar água. Seus frutos se tornaram mais leves e quase sem sementes após o quarto ano de seca, o que pode comprometer a reprodução da espécie. “Esse é um efeito da seca que raramente conseguimos observar”, diz Brando.

O estrago só não foi maior, segundo os pesquisadores, porque as árvores da Amazônia têm ao menos duas importantes estratégias de obter água durante secas prolongadas. A primeira são raízes profundas, capazes de buscar água a 11 metros abaixo do solo. A segunda é a redistribuição hídrica, um mecanismo de extrair água das áreas mais úmidas e depositar nas desidratadas, identificado entre as árvores da Floresta Nacional do Tapajós pelos biólogos Rafael Oliveira, da Universidade Estadual de Campinas, e Todd Dawson, da Universidade da Califórnia em Berkeley, Estados Unidos (Pesquisa FAPESP nº 151).

Quando a umidade do solo se encontra muito baixa, durante a noite as raízes de árvores como o breu (Protium robustum) e a maçaranduba (Manilkara huberi) absorvem a água armazenada nas camadas mais profundas e a distribuem por meio de uma trama de raízes superficiais próxima ao chão da floresta, mais seco. Descoberta por Martyn Caldwell e James Richards no final dos anos 1980 em plantas de regiões desérticas, a redistribuição hídrica permite a sobrevivência dessas árvores e de plantas vizinhas de raízes mais curtas. No período de chuvas, esse fluxo inverte: durante a noite as raízes superficiais retiram água da terra encharcada e a conduzem para as raízes profundas, que a armazenam metros abaixo da superfície. Ao incorporar os dados observados no Tapajós a um modelo climático, Jung-Eun Lee, Inez Fung, Oliveira e Dawson constataram que a redistribuição hídrica ajuda a explicar como a floresta mantém por algum tempo, nas secas prolongadas, seus níveis normais de fotossíntese e transpiração, essencial para o equilíbrio do clima do planeta. “Se a maior parte das árvores da floresta usar de fato esse mecanismo, o desmatamento da Amazônia pode ter consequências mais graves do que imaginávamos”, diz Oliveira, um dos autores do artigo que relata esses resultados em 2005 nos Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Sem reservas – As estratégias de busca de água, porém, não foram suficientes para impedir os danos que emergiram a partir do terceiro ano do experimento. A redução de pouco mais de um terço das chuvas por cinco anos fez baixar em quase 90% as reservas de água profundas, situadas entre 2 e 11 metros abaixo da superfície, na parcela coberta por painéis plásticos. Na área controle, 70% da água armazenada no subsolo permanecia disponível durante a estação seca. “O limite mínimo de chuvas para a vegetação se manter nessa região é de 1.700 milímetros. Abaixo desse valor, aumenta o risco de mudanças”, diz Oliveira.

Sem água, as árvores não resistiram e começaram a sucumbir – em especial as maiores e mais encorpadas, que acumulam 90% da biomassa da floresta. Morreram duas vezes mais árvores de grande porte, com tronco com 10 a 30 centímetros de diâmetro, na área privada de chuva do que no controle. Entre as mais imponentes, com caule de mais de 30 centímetros e entre 30 e 40 metros de altura, essa taxa foi ainda mais alta: 4,5 vezes maior. Numa avaliação mais geral, uma em cada dez árvores grandes secou na parcela coberta pelos painéis, ao passo que essa taxa foi de uma em cada 200 na área controle. A mortalidade continuou mais elevada um ano depois que o grupo removeu definitivamente os painéis plásticos da floresta, em 2005, informaram Nepstad e Ingrid Thover, do Ipam, em 2007 na Ecology.

“O componente mais afetado pela redução de chuvas foi o estoque de carbono da floresta”, afirma Paulo Brando. Nos cinco anos de redução de chuvas, a taxa de crescimento das plantas, que inicialmente havia caído 20%, baixou ainda mais: foi 41% menor do que na área de controle durante o experimento, constatou o engenheiro florestal do Ipam, atualmente aluno de doutorado na Universidade da Flórida, nos Estados Unidos. Esse crescimento minguado se refletiu principalmente na produção de madeira, 33 toneladas menor na área coberta com painéis plásticos. A floresta mais seca também produziu 47 toneladas a mais de matéria orgânica morta.

Apresentados em maio de 2008 na Philosophical Transactions of the Royal Society B, esses resultados indicam que diminuiu muito a capacidade de retirar gás carbônico (CO2) da atmosfera, fonte do carbono que é incorporado pelas plantas e transformado em caule, folhas, flores e frutos. “Ainda que as árvores menores tenham passado a crescer mais com a morte das maiores, a redução de folhas do dossel e a entrada de mais luz, esse crescimento esteve longe de ser suficiente para restaurar os níveis iniciais de absorção de CO2”, diz Brando. “Provavelmente levaria centenas de anos para a floresta recuperar a capacidade atual de estocar carbono.”

Mantidas as outras condições (temperatura, área de mata e concentração de CO2) constantes nos níveis atuais, a diminuição de chuvas poderia transformar a Amazônia de um sumidouro em um emissor global. Estudos das emissões de gases feitos pelo LBA indicam que hoje a floresta se encontra em uma situação de quase equilíbrio no que diz respeito à emissão e à absorção de carbono: cada hectare da floresta é capaz de retirar do ar por ano 0,5 tonelada de carbono a mais do que emite.

Não é pouco. Calcula-se que os 700 milhões de hectares da floresta extraiam da atmosfera 350 milhões de toneladas de carbono a cada ano, quase um décimo do que é absorvido por todas as florestas tropicais do planeta – e 3,5% do que é lançado à atmosfera pelas atividades humanas.

“Precisamos ter em mente que a redução de chuvas não é o único fator a influenciar o futuro da floresta”, lembra Carlos Nobre. Um modelo climático que a equipe de Nobre vem desenvolvendo no Inpe indica que, ao menos inicialmente, o aumento de gás carbônico na atmosfera pode contrabalançar o efeito da diminuição de chuvas. “A tendência de alteração nas regiões sul e leste da Amazônia continua, mas atenuada”, diz Nobre.

Ainda que não avalie a influência desses outros fatores, o Seca floresta pode contribuir para o aprimoramento das previsões de alteração no clima. Seus resultados podem alimentar modelos climáticos mais precisos e realistas, uma vez que os atuais não incluem alterações na área total e na estrutura das florestas decorrentes das mudanças climáticas. “Esse trabalho está quantificando parâmetros que seriam muito difíceis de calcular”, afirma Eneas Salati.

Calor e fogo – Enquanto acompanhava as transformações no Tapajós, uma vegetação densa e fechada que se ergue em média a 30 metros do solo, Nepstad e sua equipe começaram a se perguntar: se parte da Floresta Amazônica realmente se tornar mais seca e suscetível ao fogo, o que ocorre em seguida? Para descobrir, planejaram outro experimento grandioso: atear fogo a uma área de floresta mais seca, semelhante ao que poderia ser a Amazônia no futuro.

Conseguiram autorização para realizar o projeto, conhecido como Experimento de savanização, em uma fazenda em Mato Grosso do grupo André Maggi, da família de Blairo Maggi, governador do estado e maior plantador de soja do país. Nessa região chovem 1.700 milímetros por ano e a floresta é mais aberta e baixa – o dossel tem em média 20 metros de altura –, uma vegetação de transição entre a Floresta Amazônica e o Cerrado (Pesquisa FAPESP nº 103).

Por quatro anos seguidos, de 2004 a 2007, a equipe de Nepstad e Davidson colocou fogo em área de 50 hectares de floresta de transição. Agora começam a comparar o que aconteceu ali com as mudanças observadas em uma área de 50 hectares queimada duas vezes, em 2004 e 2007, e outra de mesmo tamanho que permaneceu livre do fogo.

O fogo abaixo do joelho – incêndios com chamas mais altas são raros em área de vegetação fechada – consumiu principalmente as árvores menores, com diâmetro entre 10 e 20 centímetros. A mortalidade dessas árvores mais que dobrou depois das duas primeiras queimadas: a cada ano passaram a morrer quase 10% delas. Outro grupo que sofreu foi o das lianas, trepadeiras de caule amadeirado que formam redes impenetráveis ligando o chão da floresta à copa das árvores. “Os danos causados pelo fogo foram complementares ao da redução de chuvas, que afetou principalmente as árvores mais altas”, conta a bióloga Jennifer Balch, atualmente pesquisadora do Centro Nacional de Síntese e Análise Ecológica, nos Estados Unidos.

Curiosamente, queimadas sucessivas reduziram o poder de ação do fogo, que a cada ano se espalhava por uma área menor e com chamas mais baixas, relatou a bióloga em outubro de 2008 na Global Change Biology. A razão, comprovou Jennifer, é que a cada queimada diminui a quantidade de folhas e galhos secos, o principal combustível dos incêndios florestais. Mas esse efeito parece temporário. É que a morte de árvores maiores, que é mais lenta, pode aumentar novamente o alimento do fogo. Jennifer constatou ainda que as queimadas favorecem a invasão nas bordas da floresta de gramíneas, vegetação mais propensa a queimar na seca.

Aparentemente a repetição das queimadas exauriu o poder de recuperação da floresta. “Havia sementes e plântulas [plantas jovens] de várias espécies brotando depois do primeiro fogo”, conta Jennifer. “Mas, depois da terceira queimada, o número de espécies em regeneração caiu pela metade.”

Oswaldo de Carvalho Júnior, biólogo do Ipam, notou que algumas espécies de mamíferos inicialmente se beneficiam do fogo, enquanto outras diminuíram. “O número de espécies que frequentavam a área não diminuiu, mas a população de cada uma delas baixou, com exceção  das antas, que preferem as folhas tenras dos brotos”, diz Carvalho.

Os pesquisadores do Woods Hole e do Ipam pretendem manter o experimento em Mato Grosso por alguns anos e retornar à Floresta Nacional do Tapajós para acompanhar a recuperação da mata. Enquanto buscam descobrir mais sobre a capacidade de resistência e adaptação da floresta, colecionam indícios de que o clima já está mudando. “Nos últimos anos”, conta Davidson, “os fazendeiros do Mato Grosso vêm alterando o padrão de plantio por causa das chuvas, que chegam mais tarde. Eles sabem que hoje o fogo se espalha mais rapidamente e de forma mais perigosa”.

Fonte http://www.agencia.fapesp.br/materia/10112/noticias/a-floresta-no-limite.htm

Pesquisa FPN-SP-BR

São Paulo x São Paulo

As entranhas da relação entre a destruição da Amazônia e a economia da cidade de São Paulo foram expostas, nesta terça-feira (15), com a apresentação do estudo “Conexões Sustentáveis São Paulo – Amazônia: Quem se beneficia com a destruição da Amazônia?”.

O trabalho foi elaborado por jornalistas das ONGs Repórter Brasil e Papel Social Comunicação, que durante meses percorreram milhares de quilômetros pela Amazônia para verificar a situação dos impactos ambientais e sociais causados pelo avanço da agropecuária, do extrativismo, das plantações de soja e até dos financiamentos públicos e privados sobre a floresta.

A região da bacia do Rio Xingu, distribuída entre os estados do Mato Grosso e Pará, serviu como limite geográfico para a investigação dos elos produtivos que ligam os negócios entre esta região e São Paulo. A bacia do Xingu tem 51 milhões de hectares e mais da metade de seu território está protegida por Terras Indígenas e Áreas de Conservação.

Para Leonardo Sakamoto, cientista político e coordenador da Repórter Brasil, apesar do limite geográfico do estudo, feito em virtude da dificuldade de transporte na região que impede a realização da pesquisa em toda sua extensão em poucos meses, a situação constatada na bacia do Rio Xingu não é uma exceção em relação a todo o território amazônico. “Pelo contrário, os casos de trabalho escravo e desrespeito à legislação ambiental se repetem em outros locais da Amazônia e são conseqüência de um modelo econômico predatório”, colocou.

O papel do consumidor mereceu análise de Marques Casara, da Papel Social Comunicação. Apesar das restrições como uma das partes do processo – uma vez que quem está na ponta da cadeia precisa consumir -, o agente final “pode usar o poder de compra para pressionar a rede de varejo a adquirir produtos de fornecedores que tenham uma cadeia produtiva legal”. Ele lembrou ainda que instituições de defesa do consumidor, como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), podem utilizar essas informações para promover ações que ajudem a população a conhecer de fato de quem está comprando.

O estudo mostra que diversos atores se beneficiam da derrubada ilegal de madeira na floresta e da exploração ilegal de mão-de-obra escrava. Madeireiras, frigoríficos, agroindústrias, por exemplo, estão diretamente ligadas ao problema, pois compram de fornecedores que estão na linha de frente do desmatamento.

Roberto Scarpari, gerente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em Altamira (PA), também esteve presente no evento de apresentação do estudo. “Ao efetuarmos uma compra, nós consumidores estamos aceitando a forma como aquele produto foi feito. A questão é que poucos sabem como ele foi produzido. Temos o direito de saber a origem da matéria-prima. Eu acredito que todas as cadeias produtivas deveriam ser transparentes, publicadas de diversas formas”, declarou.

Pecuária
No Pará, a pecuária vem crescendo principalmente em torno dos eixos de duas rodovias que cortam o Sul do estado: a PA-150, que parte de Marabá, e que se conecta em Xinguara com a PA-279, que se estende até São Félix do Xingu. Na área de influência dessas duas estradas, existem oito frigoríficos, além de outros três em construção. A atividade ganhou fôlego extra a partir de maio de 2007, quando a região foi considerada área livre de febre aftosa e recebeu passe livre para a exportação de bovinos.

Segundo a pesquisa, o potencial da pecuária amazônica vem atraindo inclusive a atenção de empreendedores sem tradição no segmento que tem interesse na multiplicação do capital investido. O caso mais notório é o do Grupo Opportunity, ligado ao banqueiro Daniel Dantas, com participação relevante naquela que já constitui a maior empresa de pecuária de corte do Brasil: a Agropecuária Santa Bárbara Xinguara. Com menos de três anos, a empresa já conta com impressionantes 500 mil hectares espalhados por 15 municípios do sul paraense. E o número de bois pastando nas terras da empresa cresce alucinadamente. Apenas entre 2006 e 2007, o incremento foi de 365%. O rebanho já chega a quase meio milhão de cabeças.

Os investimentos no Mato Grosso também não ficam atrás. De acordo com um diagnóstico elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), 39 frigoríficos estavam em funcionamento no estado em 2007. Espalhadas por 24 municípios, essas indústrias somavam uma capacidade diária de abate de 22 mil cabeças. O mesmo estudo identificava seis unidades em processo de ampliação e nove plantas em construção – o que deve simplesmente dobrar o número de abates por dia.

São Félix do Xingu, no Sul do Pará, é um ótimo exemplo para entender o quadro atual de expansão da pecuária na Amazônia. Em 1997, as fazendas desse gigantesco município de 84 mil quilômetros quadrados comportavam menos de 30 mil cabeças, de acordo com o Sindicato dos Produtores Rurais (SPR). Em dez anos, esse contingente passou para 1,7 milhão de animais – o maior rebanho bovino do estado, e um dos maiores do país. Mas o próprio SPR acredita que o número real supere os dois milhões.

O município também viu, nos últimos dez anos, cerca de 14,5 mil quilômetros quadrados de mata nativa (quase dez vezes superior à da cidade de São Paulo) tombarem para a formação de pastos. Para completar, a atual “lista suja” do trabalho escravo apresenta seis fazendas de São Félix do Xingu. Cinco delas se dedicavam à pecuária de corte quando foram flagradas. Ao todo, 136 trabalhadores foram libertados dessas propriedades.

O JBS Friboi, um dos frigoríficos identificados pela pesquisa, informou, após realizar uma auditoria em suas unidades no Mato Grosso, que o produtor que cometeu ilícito ambiental se valeu de uma triangulação irregular com outra de suas propriedades para vender gado à empresa, passando assim pelo sistema de bloqueio de compras existente. O Friboi – uma das primeirras  a assinar o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo – propôs outra ação pioneira no setor: criará barreiras à compra de gado tomando como base o produtor e não a área em que possivelmente tenha se dado a criação.

Madeira
O estudo mostra dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) que apontam que cerca de 12,7 milhões de metros cúbicos de madeira da Amazônia abasteceram o mercado em São Paulo. A maior parte desse volume vem processada porque o Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para toras brutas é bem mais alto. Os paulistas consomem 23% do que se extrai da floresta, segundo a Diretoria de Florestas do Ibama. A quantidade representa mais do que a soma do volume adquirido pelos dois estados que aparecem em segundo lugar, Paraná e Minas Gerais, ambos com 11%.

Para tentar restringir o fluxo de produção ilegal, autoridades estaduais e municipais de São Paulo adotaram medidas, como a ex-prefeita e atual candidata Marta Suplicy que baixou portarias impedindo a compra de mogno. Em 2005, o então governador Geraldo Alckmin e o ex-prefeito José Serra assinaram decretos estaduais e municipais com o objetivo de assegurar a procedência legal desses materiais, exigindo que eles tenham origem de áreas de desmatamento autorizado. Essas obrigações foram estendidas também para os fornecedores de mobiliários e instalações ao poder público municipal, em 2007.

Empresas criminosas escapam do crivo dos órgãos públicos por meio de diversos mecanismos, conhecidos como “esquentamento da madeira”. Segundo o estudo, madeireiros “esquentam” produtos ilegais quando, por exemplo, conseguem que um Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) seja aprovado, usando na verdade uma área que já foi explorada. Depois, eles retiram árvores de outra área e informam na documentação que as toras saíram da área aprovada. Além disso, uma mesma guia de transporte é usada até dez vezes.

Soja
Outra atividade pesquisada é a soja. As plantações do grão representam quase metade da lavoura brasileira de grãos. Apesar de, historicamente, a expansão do grão ter se dado principalmente no Cerrado, o aumento da demanda no mercado internacional impulsionou uma maior penetração da cultura na Amazônia. Em número considerável de áreas, a soja tornou-se motivação direta de queimadas e desmatamentos para a conversão em lavoura.

Já na safra 2004/2005, de acordo com estudo lançado pelo Greenpeace em abril de 2006, 5% da produção de soja brasileira era proveniente de terras localizadas no bioma amazônico. Além das conseqüências climáticas e do agravamento do efeito estufa, o avanço da cultura também traz conseqüências para povos indígenas, comunidades tradicionais e assentados. Dos 19 municípios apontados pelo governo federal como principais focos de desmate naquele estado, seis se localizam em áreas parcialmente integradas à área de proteção. No entorno da região sul do Parque Nacional do Xingu, a cultura sojeira é hoje a principal atividade econômica estabelecida.

A soja chega para o mercado consumidor paulistano direta ou indiretamente, na forma de produtos alimentícios. O azeite e óleo, por exemplo, feitos a partir do grão, com base na soja plantada na Amazônia Legal. Vale lembrar também a grande quantidade de alimentos industrializados que contém proteína de soja em sua fórmula – salsichas, hambúrgueres, sucos, iogurtes, etc.

Finanças
Desde os tempos da ditadura militar, quando o processo de colonização e de “integração” da Amazônia ganhou fôlego, generosos financiamentos de instituições públicas e privadas vêm bancando as atividades produtivas na floresta. Ao longo da história, essa injeção de recursos não levou em conta os impactos socioambientais desses empreendimentos.

Nos últimos anos, alguns mecanismos foram adotados para tentar conter o impulso à devastação. A Resolução 3.545 do Conselho Monetário Nacional (CMN) foi uma medida relevante nesse sentido. A partir de 1° de julho, os produtores que quiserem ter acesso a recursos de instituições financeiras para custear sua produção precisa apresentar obrigatoriamente documentos que comprovem a regularidade do registro fundiário de sua fazenda, além das licenças ambientais autorizando a exploração. Com dois meses e meio de vigência da resolução, os financiamentos públicos concedidos pelo Banco da Amazônia (Basa) e pelo Banco do Brasil despencaram até 15%. Por outro lado, a procura de produtores para regularizar a situação fundiária de suas terras aumentou em 60%, de acordo com projeção do ministro Carlos Minc, do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

A despeito das pressões, a ligação do mercado financeiro com atividades que causam impactos continua robusta. Estudo feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) sobre o setor da pecuária bovina de corte, entretanto, mostra que produtores desse segmento – reconhecidamente dos que mais contribuem para a devastação da floresta – foram contemplados com R$ 1,89 bilhão do Fundo Constitucional do Norte (FNO), desde o início do governo Lula, em 2003, até o ano de 2007.

O frigorífico Bertin, por exemplo, conseguiu um poplpudo apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Entre setembro de 2007 e agosto deste ano, o frigorífico encabeçou a lista das principais contratações do principal banco estatal de fomento. O Bertin tem à sua isposição R$ 2,5 bilhão para consolidar seu plano de internacionalização, bem com ampliar a capacidade de suas fábricas.

Outros dois gigantes do segmento de processamento de carne bovina, e com presença marcante na Amazônia, também foram contemplados por financiamentos do BNDES, no mesmo período. O JBS-Friboi, maior frigorífico do mundo em capacidade de abate, e o Marfrig, que abriu seu capital no ano passado na Bolsa de Valores de São Paulo, aparecem respectivamente na segunda e terceira posições, deixando claro o avanço do segmento da
pecuária de corte no Brasil, que vem crescendo principalmente na Amazônia.

Seminário
A partir de dados como esses, a organização do seminário está propondo a assinatura de pactos setoriais: soja, pecuária bovina e madeira, entre o mercado varejista, empresários e envolvidos nessas atividades, que deve ser formalizada nesta quarta-feira (16), na continuação do seminário “Conexões Sustentáveis: São Paulo – Amazônia”. 

Está prevista também a presença dos candidatos ao segundo turno das eleições municipais de São Paulo para assinatura do compromisso com políticas e compras públicas. A realização do estudo e do seminário é uma iniciativa do Movimento Nossa São Paulo e Fórum Amazônia Sustentável, duas iniciativas da sociedade civil.

Fonte:

http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=1438

Pesquisa:

FPN-SP-Br

Amazônia

Foram 1.123 km², praticamente a área do município do Rio de Janeiro (1.182 km²) ou cinco vezes a do Recife (218 km²) – e tudo isso em apenas um mês.

Esse foi o desmatamento observado na Floresta Amazônica em abril, segundo dados do sistema Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), apresentados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na segunda-feira (2/6).

Do total da área em que se verificou corte raso ou degradação progressiva, 794 km², ou 70,7%, estavam no Mato Grosso. Roraima aparece em seguida na relação dos estados da Amazônia Legal com mais desmatamento, com 284,8 km².

Segundo o Inpe, o sistema havia registrado 112 km² de desmatamento no Mato Grosso em março, mas em período em que 78% da Amazônia estava coberta de nuvens, sendo que 69% do estado não pôde ser observado pelos satélites – a cobertura de nuvens costuma variar muito de um mês para outro, assim como a localização das áreas encobertas.

Do total verificado pelo Deter em abril, 53% da Amazônia esteve sob nuvens, mas apenas 14% do Mato Grosso ficou encoberto. Isso indica que a oportunidade de observação no estado aumentou muito de março para abril.

De agosto de 2007 a abril deste ano, o sistema identificou 5.850 km² de área desflorestada. Entre agosto de 2006 e julho de 2007, um intervalo de tempo maior, foram 4.974 km².

Em operação desde 2004, o Deter foi concebido como um sistema de alerta para suporte à fiscalização e ao controle de desmatamento. São mapeadas tanto áreas de corte raso como áreas em processo de desmatamento por degradação florestal.

De acordo com o Inpe, é possível detectar apenas polígonos de desmatamento com área maior que 25 hectares por conta da resolução dos sensores espaciais (o Deter utiliza dados do sensor Modis do satélite Terra/Aqua e do sensor WFI do satélite CBERS, com resolução espacial de 250 metros). Devido à cobertura de nuvens, nem todos os desmatamentos maiores que 25 hectares são identificados pelo sistema.

Mais informações: www.inpe.br

Pesquisa: FPN-SP-Brasil